Páginas

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
que é uma questão
de vida ou morte
será arte?

Ferreira Gullar

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Não quero...


Não quero alguém que morra de amor por mim... Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando. Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade. Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim... Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível... E que esse momento será inesquecível... Só quero que meu sentimento seja valorizado. Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre... E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor. Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém... e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto. Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho... Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento... e não brinque com ele. E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo... Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe... Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz. Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,talvez obterei êxito e serei plenamente feliz. Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas... Que a esperança nunca me pareça um "não" que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como "sim". Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento. Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena!!!

Mario Quintana

domingo, 19 de outubro de 2008

Novas lentes...


O tempo e algumas situações muitas vezes embaçam terrivelmente nossas lentes.
Isso por causa de questões que nem sempre nos damos conta
ou que não somos capazes de perceber suas implicações.
Parece que a ficha só cai quando a visão já está tão turva
a ponto de dificultar o simples ato de seguir em frente.
Essa consciência é que permite repensar as pequenas atitudes
e a decisão de limpar as lentes ou simplesmente de trocá-las.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Um bom começo....


fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer: amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.

José Luís Peixoto

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Metamorfose


Muitas vezes é preciso encontrar o que existe em nós...
E essa pode ser uma experiência realmente complexa,
visto que pode ser uma descoberta dolorosa e difícil.
É possivel comparar esse processo
a uma metamorfose de uma borboleta
e sair do casulo realmente
não deve ser tarefa fácil...
Porém a inquietação não permite
mais permanecer como antes.
Tem momentos em que
a borboleta precisa surgir.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Reconstrução


Acho que estou no momento de reconstrução...
Reconstruindo minha forma de ver e sentir as coisas
Reconstruindo até minha auto-percepção
Quem somos?
O que queremos?
Essas são boas perguntas a serem respondidas...
o difícil é encontrar respostas verdadeiras.
Quando começamos a conquistar o esperado
surgem novas inquietações, novos desejos e
principalmente uma maneira diferente
de enxergar o amanhã...